terça-feira, 28 de abril de 2009

Nossa Fé

O Cristianismo e o Judaísmo

Por Sha’ul Bentsion

Introdução

Dadas as recentes controvérsias acerca de Judaísmo e Cristianismo, gostaria de postar aqui um Esclarecimento, que, creio eu, servirá de base para os novos membros, e também de referência para os antigos.

1) A Base da Nossa Fé

Vivemos tempos de restauração da fé, de voltarmos às nossas origens. Nós somos o princípio Estamos muito no começo do processo) de cumprimento do que fora profetizado na Palavra:

"Assim diz YHWH: Ponde-vos nos caminhos, e vede, e perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele; e achareis descanso para as vossas almas;" (Irmiyahu/Jeremias 6:16a)

Estamos vivendo o tempo de retorno às veredas antigas, ao Caminho estabelecido por YHWH em Sua Santa Palavra. Mais especificamente, voltamos qual filho pródigo aos Seus mandamentos. Mas, qual é a base desse retorno? A Bíblia esclarece:

"Assim diz YHWH Tseva'ot: Naquele dia sucederá que pegarão dez homens, de todas as línguas das nações, pegarão, sim, na orla das vestes de um judeu, dizendo: Iremos convosco, porque temos ouvido que Elohim está convosco." (Zekariyah 8:23)

Vemos que no fim dos tempos, os homens das nações irão atrás dos judeus, por ouvirem que Elohim está com eles. Assim sendo, podemos ver que as Escrituras nos dizem uma coisa muito clara: Nossa fé é JUDAICA. O Judaísmo, fé que recebeu esse nome por ter sido preservada pelos judeus, é a única fé estabelecida pelo único Elohim verdadeiro.

"Meus amados, faço o meu melhor para vos escrever acerca de nossa vida interior. É importante vos escrever, para vos persuadir a lutarel em prol da nossa fé, a qual foi uma única vez entregue aos santos." (Yehudá/Judá 1:3)

Essa fé que foi uma única vez entregue não pode ser o Cristianismo, pois o mesmo é muito posterior. Essa fé é a fé de Avraham, de Moshe, e dos patriarcas, que confiavam em Elohim
para a salvação (Yeshua) e que procuravam viver em obediência. Portanto, estabelecemos que nossa fé é judaica.

2) Relacionamento com o Cristianismo

Reconhecemos que existe povo do Eterno aos milhões que ainda se encontra nas igrejas cristãs. Cremos em um tempo de restauração em que YHWH chamará a esse povo, como chamou a nós. Sabemos que isso ocorrerá antes do fim dos tempos, porque o povo do fim dos tempos tem uma característica distinta:

"E o dragão irou-se contra a mulher, e foi fazer guerra ao remanescente da sua semente, os que guardam os mandamentos de Elohim, e têm o testemunho de Yeshua HaMashiach." (Guilyana/Apocalipse 12:17)

Falo agora do Cristianismo enquanto instituição, e não dos cristãos enquanto pessoas. O Cristianismo desconhece Yeshua, o judeu, e justamente por isso, não guarda os mandamentos de Elohim (claro que sempre há exceções, mas são pouquíssimas). É escolha da maior parte da Cristandade, inclusive, opor-se à prática dos mandamentos. Frequentemente, por exemplo, quem guarda o Shabat, o quarto mandamento, é acusado de ter “caído da graça” – como se a graça de Yeshua, que afirmamos com todas as nossas forças, fosse pretexto para pecarmos deliberadamente.

De fato, o Cristianismo trata-se nada mais nada menos do que uma religião criada por grupos que desejavam ter uma fé completamente desconectada do Judaísmo, com quase nenhuma raíz nas páginas do chamado “Antigo Testamento” (que não sem um motivo recebeu tal termo). O Cristianismo optou por negar as raízes da Oliveira, contrariando as recomendações de Rav. Sha’ul (Paulo) que diz:

“Não te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti.” (Ruhomayah/Romanos 11:18)

Ao fazer isso, o Cristianismo usurpou a identidade hebraica da fé. Em sendo “ramos”, foram buscar as suas raízes, e a encontraram no paganismo romano, cujas origens estão nas antigas religiões politeístas grega e babilônia, novamente contrariando as Escrituras. Qual deve ser, portanto, nossa posição com relação ao Cristianismo? Yeshua disse:

“Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons.” (Matitiyahu/Mateus 7:17-18)

Praticamente todos os teólogos são unânimes em identificar a “Grande Meretriz” do Apocalipse com o Império Romano. Foi esse Império Romano, que perdura até hoje de forma político-eclesiástica, quem criou o Cristianismo. A “mãe de todas as prostitutas” tem, hoje, muitas filhas: São as religiões que mudam o suficiente para se diferenciarem da mãe e dizerem “sou diferente”, mas que não querem abandonar toda a doutrina criada por Roma e recomeçar.

A Reforma Protestante trouxe coisas positivas, é verdade, mas para a Grande Babilônia, não existe Reforma, existe total ruptura:

“E ouvi outra voz do céu, que dizia: Sai dela, povo meu, para que não sejas articipante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas.” (Guilyana/Apocalipse 18:4)

“Saí do meio dela, ó povo meu, e livrai cada um a sua alma do ardor da ira de YHWH... Vós, que escapastes da espada, ide-vos, não pareis; de longe lembrai-vos de YHWH, e suba Yerushalayim a vossa mente.” (Yirmiyahu/Jeremias 51:45,50)

As instruções são claras: Romper total e completamente com o sistema religioso impostor que foi construído para usurpar o Reino de Israel, seguir em direção a Jerusalém sem parar. Como dissemos antes, estamos falando do sistema religioso, e não de pessoas. Nossa posição é: Temos que ajudar a restaurar pessoas. Porque somente uma pessoa restaurada pode almejar o retorno. Tenho certeza de que muitos existem nas igrejas cuja vontade de obedecer e de viver a Bíblia são maiores do que muitos de nós juntos, e que não o fazem simplesmente por não conhecer a verdade. Creio na salvação, e na pertinência deles ao povo amado de YHWH. E creio justamente que aí está a nossa missão principal: Esclarecer. Como a própria palavra, etimologicamente, sugere, levar luz onde há trevas. Mostrar o que é bíblico, e o que não é.

Mas e quanto às práticas cristãs? E quanto ao Cristianismo em si? A resposta bíblica é clara. Nada temos com eles. Nada temos com esse sistema religioso, exceto a distância absoluta. Como se trata de um sistema impostor, idólatra, anti-nomínio, e enganador, não há bons frutos. Não temos por que consideramos suas doutrinas, imitarmos seus caminhos, ou tomarmos para nós as suas práticas. Temos sim, que amar, instruír e ter longanimidade para com os cristãos, sem acusá-los, sem maltratá-los (pois isso não é fruto do Reino) nem proferir qualquer palavra que não seja em amor. Se pudermos contribuir para que um mandamento apenas, um sequer, seja cumprido por qualquer pessoa, é um passo dado na direção do Reino, e devemos nos alegrar, pois um planta, o outro rega, e um terceiro colhe.

3) O Judaísmo e Nós

Como vimos, nossa fé é judaica. Portanto, nossa identidade não pode ser desconectada do Judaísmo. O Judaísmo, ou poderíamos chamá-lo de “Yahwismo” (a fé de YHWH), é aquilo que praticamos, e que nos define, pois somos o Reino de YHWH.

“Qual é pois, a vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão? Muita, em toda a maneira, porque, primeiramente, as palavras de Elohim lhe foram confiadas.” (Ruhomayah/Romanos 3:1-2)

Aqui Sha’ul (Paulo) nos diz que as palavras de elohim foram confiadas aos judeus. Nossa religião, repito e reforço, é judaica. Somos, acima de tudo, Judaísmo. Portanto, o nosso ponto de partida é sempre o Judaísmo. Ao longo desses dois mil anos em que a Torá foi brutalmente perseguida, foi no povo judeu que ela foi preservada, mesmo em meio a erros e acertos.

Se nós, enquanto movimento de restauração, somente agora temos nos aproximado da Torá, a forma mais prudente de fazê-lo é aprendendo com os judeus.

Como, portanto, estabelecemos a nossa prática de fé? A primeira coisa que fazemos é olhar para como o Judaísmo normativo faz. Nossa premissa é muito simples: Toda prática é derivada do Judaísmo normativo, até que tenhamos atingido a maturidade em nossos estudos para tirarmos qualquer outra conclusão. Enquanto não estudamos a fundo as práticas da Torá, não temos base para questionar a forma como os judeus a vêm praticando há milênios. Mas, tais elementos só podem ser encontrados se conhecemos a palavra.

Consideramos que levantar-se contra uma prática judaica, sem ter base bíblica para fazê-lo, simplesmente por não querer fazer “da forma judaica” (coloco aqui entre aspas) uma atitude de rebeldia. Ou adentramos o povo de YHWH de corpo e alma, ou é melhor não adentrarmos. Não podemos ficar com um pé dentro e outro fora, nem frios nem mornos.

Isso significa que TUDO que o Judaísmo normativo faz está certo? De forma alguma. Existem muitos erros. Yeshua mesmo apontou alguns deles:

“E assim invalidastes, pela vossa tradição, o mandamento de Elohim.” (Matitiyahu/Mateus 15:6)

Yeshua aqui não inventa uma nova postura, mas sim trabalha com uma premissa já estabelecida desde os tempos dos profetas:

“Porque YHWH disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca, e com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído.” (Yeshayahu/Isaías 29:13)

O segundo passo pode ser visto já nos versículos supracitados. Em nossos estudos sobre a Torá, já demonstramos que não existe uma Torá Oral. YHWH deixou por escrito tudo aquilo que Ele espera que cumpramos. Toda prática que não deriva de nem se refere a um mandamento não pode ser considerada como tal. Pode ser até mesmo praticada como uma boa tradição, mas nunca mais do que isso.

Se concluímos que o Judaísmo tradicional tem alguma prática fora da Torá, então o terceiro passo também é igualmente lógico: Procuramos se a Bíblia nos dá alguma diretriz explícita. Em alguns casos, o NT revela a halachá (forma de caminhar) de Yeshua. Isso, contudo, não acontece sempre. Se não encontrarmos a resposta explicitamente, podemos pelo menos estabelecer uma hipótese bíblica.

O quarto passo é igualmente lógico: Se a resposta não está no Judaísmo de hoje, então devemos estudá-la no Judaísmo de ontem. Se olharmos para o Judaísmo histórico, nas práticas dos fariseus antes do período Mishnaico (especialmente as Casas de Hillel e Shamai), ou dos sacerdotes zadoquitas, ou mesmo de outros grupos judaicos que persistem até hoje (caraítas, falashas, etc.), é possível verificar se algum desses grupos se aproxima de uma prática mais bíblica.

Quando a solução parece improvável, isto é, quando cada grupo tem a sua própria opinião é parece-nos muito difícil encontrar a verdade, então existe ainda um quinto passo, orientado por YHWH. Ele nos diz:

“Mas os sacerdotes levíticos, os filhos de Tsadok, que guardaram a ordenança do meu santuário quando os filhos de Israel se extraviaram de mim, eles se chegarão a mim, para me servirem, e estarão diante de mim, para me oferecerem a gordura e o sangue, diz Adonai YHWH... E a meu povo ensinarão a distinguir entre o santo e o profano, e o farão discernir entre o impuro e o puro.” (Yehezkel/Ezequiel 44:15,23)

Aos sacerdotes zadoquitas, exilados da vida política de Israel, e cujos escritos podemos encontrar nos manuscritos do Mar Morto, pertence a incumbência de ensinar a Israel o que é santo e o que é profano. Assim sendo, o quinto passo é analisar as suas práticas e ensinamentos, pois certamente são o grupo que o próprio YHWH afirmou estar mais próximo da verdade.

Ainda assim, quero assegurar-lhes de que nós cometeremos erros em nossas interpretações sobre as práticas bíblicas. Se não cometêssemos, não seríamos humanos. Mesmo assim, estamos honrando a YHWH em, de forma absolutamente ordenada, coerente e responsável, buscarmos o máximo que conseguimos a verdade. Erraremos sim, mas erraremos buscando acertar.

Sabemos que é justamente onde nos falta a perfeição que a graça de Yeshua nos inunda e nos preenche, tornando-nos dignos onde jamais seríamos:

“E todos nós recebemos também da sua plenitude, e graça por graça.” (Yochanan/João 1:16)

Alguns poderiam sugerir que a linha é tênue entre rejeitarmos o Cristianismo enquanto sistema doutrinário romano, e rejeitarmos as pessoas. Ou entre aceitarmos a identidade judaica, e nos prendermos a mandamentos de homens. Ou ainda entre negarmos os acréscimos à Torá, e negarmos a nossa própria identidade israelita. Eu percebo e entendo que não são tarefas fáceis – e entendo que todos nós, em diversos momentos, pela nossa total dificuldade, enquanto seres humanos, de caminharmos em linha reta, tropeçaremos.

Provavelmente, haverá momentos em que pisaremos mais para a esquerda, ou mais para a direita. E é bem provável que, ao fazer isso, haja conflitos. É da natureza humana. Não podemos fingir que isso não ocorrerá e, se e quando ocorrido, tratar pontualmente, caso a caso.

Contudo, apesar de ter ciência da dificuldade humana, também tenho fé e convicção de que a nossa posição,e os nossos objetivos estão plenamente claros e explicitados neste documento, bem como nas demais comunicações que fazemos. Se errarmos, enquanto indivíduos, creio eu, será puramente por inabilidade humana, e não por falta de clareza de identidade e objetivo. E, por fim, rogo para que YHWH Yeshua nos permita sermos tudo aquilo que devemos ser, pois o mundo carece da mensagem de teshuvá.

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